Author Archives: Priscilla Figueiredo

Oxigenoterapia hiperbárica no tratamento da intoxicação por monóxido de carbono

O monóxido de carbono é liberado no ambiente por fontes naturais ou antrópicas (causas humanas). As fontes emissoras naturais podem ser: atividade vulcânica, descargas elétricas e emissão de gás natural. No entanto, as fontes emissorasantrópicas equivalem a aproximadamente 60% do monóxido de carbono presente na troposfera. Tudo isso é produto da combustão incompleta, ou seja, a queima em condições de pouco oxigênio de combustíveis fósseis (lenha, carvão vegetal e mineral, gasolina, querosene, óleo diesel, gás), sistemas de aquecimento, usinas termelétricas a carvão, queima de biomassa e tabaco.

Estudos diversos são conduzidos buscando descobrir qual é a melhor forma de combater essa intoxicação. É sobre isso que a Biomédica Juliana Festa de Vasconsellos falou em uma matéria, citando um estudo que verificou que a oxigenoterapia hiperbárica é bastante eficaz nesses quadros. Leia a seguir:

Uma intoxicação por monóxido de carbono (CO) é uma das intoxicações fatais mais comuns, ocorrendo por inalação. CO é um gás incolor, inodoro, insípido e de início não irritante, resultante da combustão incompleta de hidrocarbonetos.

A intoxicação por CO aumenta as taxas de mortalidade em curto e em longo prazo nos pacientes afetados. Seu tratamento consiste sobretudo na administração terapêutica de oxigênio puro ou oxigênio hiperbárico, embora o tratamento ideal não seja consensual.

A oxigenoterapia hiperbárica (OHB) é uma modalidade terapêutica que consiste na oferta de oxigênio puro em um ambiente pressurizado a um nível acima da pressão atmosférica, habitualmente entre duas e três atmosferas. A OHB é segura apresentando poucas contraindicações e pode ser aplicada em câmaras com capacidade para um paciente ou para diversos.

Até o momento, não existe um consenso sobre o efeito da OHB e a mortalidade de pacientes com intoxicação por CO. Um estudo de coorte retrospectivo baseado na população nacional de Taiwan foi conduzido para esclarecer esta questão.

Foi utilizada uma base de dados de envenenamento nacional de Taiwan, e foram identificados 25.737 pacientes diagnosticados com intoxicação por CO entre 1999 e 2012, incluindo 7.278 pacientes que receberam OHB e 18.459 pacientes que não realizaram OHB. A média de idade dos pacientes que receberam OHB foi de 34,9 (desvio padrão: 14,7). A maioria dos pacientes tinha idade entre 20 e 50 anos (68,19%).

Os pacientes que receberam OHB apresentaram menor taxa de mortalidade em comparação com os pacientes que não realizaram (hazard ratio [HR] ajustado: 0,74; intervalo de confiança [IC] de 95%: 0,67 a 0,81) após ajuste para idade, sexo, comorbidades subjacentes, rendimento mensal e condições concomitantes, especialmente em pacientes com idade < 20 anos (HR ajustado: 0,45; IC 95%: 0,26 a 0,80) e aqueles com insuficiência respiratória aguda (HR ajustado: 0,43; IC 95%: 0,35 a 0,53).

A menor taxa de mortalidade foi observada por um período de 4 anos após o tratamento da intoxicação por CO. Os pacientes que receberam duas ou mais sessões de OHB apresentaram menor taxa de mortalidade versus aqueles que receberam apenas uma vez.

Idade avançada, sexo masculino, baixa renda mensal, diabetes, malignidade, acidente vascular cerebral, alcoolismo, transtornos mentais, tentativas de suicídio e insuficiência respiratória aguda também foram preditores independentes de mortalidade. Atenção deve ser dada a esses fatores de risco, bem como à própria intoxicação por CO, a fim de alcançar uma maior sobrevida.

Conclui-se que a OHB está associada a uma menor taxa de mortalidade em pacientes com intoxicação por CO, especialmente naqueles com idade inferior a 20 anos e aqueles com insuficiência respiratória aguda. Os resultados deste estudo fornecem referências importantes para a tomada de decisão no tratamento da intoxicação por CO.

Fonte

Oxigenoterapia Hiperbárica no tratamento de Endometriose?

O cientista inglês Matthew Rosser fala, na entrevista abaixo, sobre uma pesquisa realizada por pesquisadores turcos sobre uma possível terapia para tratar a endometriose, a oxigenoterapia hiperbárica (OHB).

A endometriose é complicada, não importa a teoria de origem que você prefere, ou o mecanismo da doença; todos concordamos que é complicada. Para resolver um problema complexo, não importando qual seja, as pessoas surgem com várias possíveis soluções diferentes e a endometriose é um bom exemplo disso. Existem muitos tipos de tratamento para a doença, desde um monte de terapias hormonais e cirurgias, passando por medicina alternativa, até sofisticadas tecnologias como a terapia genética.

Mas a ciência está em constante evolução, já que os cientistas estão constantemente pesquisando e realizando experimentos para resolver alguns problemas complexos, e por vezes, as ideias que nascem desses experimentos podem parecer estranhas no começo.

Veja por exemplo essa pesquisa de um grupo da Turquia. Esse grupo induziu endometriose em ratos e os dividiu em dois grupos. Um dos grupos foi deixado em paz, sem intervenção (grupo de controle), enquanto que o outro foi colocado em Terapia Hiperbárica de Oxigênio (HBO) por duas horas diárias durante 6 semanas.

O resultado desse estudo mostrou que os ratos que receberam terapia HBO tiveram uma redução no tamanho dos seus implantes quando comparados com o grupo de controle. Também revelou uma assinalável redução nos marcadores de inflamação.

Essencialmente a endometriose no grupo HBO (vamos chamá-lo assim) entrou em remissão. Então porque será que isso aconteceu e qual o passo seguinte?

Bom, terapia HBO facilita uma melhoria no sistema imunológico. Apesar de esse ser um estudo baseado em animais (podendo não funcionar em humanos), continuam sendo resultados bem encorajadores, até mesmo porque a terapia HBO não tem efeitos colaterais graves e é bastante segura. Por esse motivo será bem fácil no futuro testar a terapia HBO em humanos com endometriose e observar se ajuda na recuperação pós-operatória ou na redução de sintomas.

E ai, o que vocês acharam? Bastante animador, não é mesmo? Claro que ficamos no aguardo de novos estudos que repliquem esses dados, mas parece que a oxigenoterapia hiperbárica se mostra como aliada no tratamento de mais um quadro complicado.

Fontes:

Estudo e Entrevista

Tratamento coadjuvante com oxigenoterapia hiperbárica em pacientes grandes queimados

Há alguns anos o autor Tomaz Brito publicou um estudo muito interessante revisando o que há publicado relacionamento a oxigenoterapia hiperbárica a grandes queimados. O estudo é chamado “Tratamento Coadjuvante com Oxigenoterapia Hiperbárica em Pacientes Grandes Queimados” e pode ser lido na íntegra aqui. 

Mas logo no começo o autor nos explica que “a Oxigenoterapia Hiperbárica (O2HB) é um tratamento médico baseado nos efeitos biofísicos e bioquímicos do oxigênio e na técnica de promover o aumento de sua disponibilidade às células e tecidos, por meio de sua maior dissolução no plasma quando ventilado sob pressões maiores que a pressão atmosférica normal (Lei de Henry). Nos últimos 49 anos, muitos trabalhos foram publicados em todo o mundo, comunicando ou questionando a eficácia desta forma de tratamento em pacientes queimados ou intoxicados em incêndios. Apresentamos aqui uma revisão deste que ainda é um aspecto pouco esclarecido na abordagem mais eficiente das vítimas de traumas térmicos.”

Assim, o autor fez a revisão desses artigos publicados em todos esses anos e concluiu que “a Medicina Hiperbárica tem um papel de grande relevância no tratamento de vítimas de queimaduras térmicas e elétricas, sendo esta inclusive uma das indicações formais de O2HB, de acordo com a Resolução 1457/95 do Conselho Federal de Medicina, e também com rol de indicações da ANS e da Sociedade Brasileira de Medicina Hiperbárica.” Com essa importante conclusão, ele espera que “especialistas no tratamento desses pacientes possam unir forças para equipar seus Centros de Tratamentos de Queimados com serviços de oxigenoterapia hiperbárica, o que certamente trará uma significativa mudança de resultados e de custos”.

Este é mais um estudo científico de revisão de estudo de casos que nos mostra a importância da oxigenoterapia hiperbárica na recuperação de pacientes queimados, uma das melhores indicações de OHB. A importância está não só na significativa redução de custos para cuidar desses pacientes, mas também no bem-estar deles, o que é de suma importância.

Justin Bieber está se tratando com oxigenoterapia hiperbárica?

Na última semana o cantor Justin Bieber postou em suas redes sociais imagens de ele realizando um tratamento. Desde então, diversos sites de notícias vêm divulgando aquele como o tratamento de oxigenoterapia hiperbárica e dizendo que ele realiza o tratamento para combater a depressão.

Acontece que um dos grandes motivos de a Oxigenoterapia Hiperbárica não ser tão difundida no Brasil é justamente o preconceito que existe acerca do tratamento, que já foi muitas vezes relacionado a tratamentos estéticos de artistas com muito dinheiro. Por isso, resolvemos quebrar alguns mitos com relação a terapia de Bieber.

O primeiro fator é que a Oxigenoterapia Hiperbárica não tem, até o presente momento, qualquer protocolo para atuação em pacientes com depressão. Apesar de haverem alguns estudos tentando avaliar uma melhora, os resultados não foram suficientes para se provar nada, portanto esse tipo de tratamento não é usado no tratamento de depressão e, até onde sabemos, não demonstra resultados para tal. Isso porque o tratamento é sistêmico, enquanto a depressão atua na parte emocional, não há uma parte física do corpo a ser curada em quadros depressivos.

O segundo fator é que nas imagens vemos Bieber no que parece ser uma residência, em um compartimento inflável, dormindo dentro do aparelho. Isso nos mostra que o que está sendo realizado ali não é a Oxigenoterapia Hiperbárica. A terapia exige que o paciente fique em uma câmara resistente e hermeticamente fechada para suportar pressões atmosféricas mais altas que a nossa, portanto, o compartimento inflável de Bieber não permite que a pressão seja realizada adequadamente. Além disso, o paciente precisa respirar oxigênio a 100%, isso exige toda uma estrutura para armazenamento do oxigênio em seu estado puro, algo bastante difícil de se conseguir em casa. Por fim, o fato de Bieber estar dormindo nas imagens. Isso é inadequado, pois o tratamento com os protocolos corretos dura de 90 a 120 minutos diários, não podendo o paciente passar a noite dormindo enquanto realiza o tratamento. Isso porque o efeito não é acelerado e porque é importante que o corpo tenha intervalos para o sucesso da terapia.

Devemos lembrar que o próprio Bieber não falou muito sobre o que está sendo realizado, apenas compartilhou as imagens. Porém, podemos afirmar que não é Oxigenoterapia Hiperbárica em seus protocolos e que esse tratamento não deve estar sendo usado no combate a depressão.

Para mais informações sobre esse tratamento, procure sempre um médico especializado, ele poderá te informar com detalhes se o tratamento ajuda ou não em seu quadro.

Indicações oftalmológicas para OHB

Uma pesquisa feita por estudiosos de Barcelona e publicado na Revista Virtual De Medicina Hiperbárica Da Espanha, fala sobre os quadros oftalmológicos que a oxigenoterapia hiperbárica pode ajudar. Os pesquisadores fizeram uma revisão bibliográfica da Oxigenoterapia Hiperbárica e suas indicações em Oftalmologia, objetivando criar uma referência atualizada sobre o assunto, que servisse de consulta aos especialistas de ambos os ramos.

Os quadros oftalmológicos citados no estudo que podem se beneficiar do tratamento coadjuvante da oxigenoterapia hiperbárica são:

  • Trombose da artéria central da retina
  • Retinopatia diabética
  • Neurite Óptica
  • Retinite pigmentosa
  • Glaucoma
  • Atrofia óptica
  • Afeições Cornéal
  • Distúrbios hipóxicos do segmento anterior.
  • Edema cistóide no pós-operatório.
  • Trombose de fundo venoso.

Eles explicam:

  • Os mecanismos de autorregulação da retina têm uma grande influência na eficácia da OHB.
  • A retina não é muito sensível à hipocapnia e sua vasoconstrição é uma resposta primária à hipóxia.
  • Nenhum tratamento convencional para a obstrução da artéria central da retina é satisfatório por si só. Quando a oclusão é incompleta, tem sido bem-sucedida a combinação de tratamentos convencionais com OHB mas quando a oclusão é completa do resultado depende da rapidez com que a terapia hiperbárica é iniciada (de preferência, dentro das primeiras horas enquanto que a retina é viável).
  • A OHB provou ser útil na retinopatia diabética não-proliferativa com base em vasoconstrição induzida por hiperoxia e, obviamente, é uma contra-indicação absoluta em membranoproliferativa por ser o OHB um indutor de neovascularização.
  • HBO é útil no tratamento de neurites pós-radiação, neurite metanólica e neuropatia mielocítica subaguda.
  • Usado na Retinitis Pigmentosa, o OHB melhora a acuidade visual e produz uma abertura do campo visual após 10 sessões, mas essa melhora não é permanente, mas as sessões do OHB são mantidas ao longo do tempo.
  • Produz melhoria do campo visual no glaucoma de ângulo aberto.
  • No caso de atrofia óptica, a melhora pode ser considerável se a OHB for usada para apoiar terapias tradicionais.
  • A HBO é bem-sucedida na grande maioria das condições da córnea, como queratite, ceratocone, traumatismos e ulcerações.
  • A isquemia do segmento anterior e a rubeose da íris, que aparecem como complicações cirúrgicas, podem ser prevenidas e tratadas com sucesso pela OHB.
  • O edema cistóide pós-operatória e fundo trombose venosa, que também domina benefício edema, vasoconstritora do poder da OHB.

Com o estudo, os pesquisadores concluíram que a OHB é um tratamento eficaz na maioria destas entidades, mas para isso deve ser iniciado tão cedo quanto possível.

 

Para ler o estudo completo, clique aqui.